O BNPL (buy now, pay later), literalmente “compre agora, pague depois” é a nova tendência quando o assunto é método de pagamento ou acesso a crédito. Popularizado com a ajuda de redes sociais como o TikTok, o método é uma nova forma de compra a prazo para os clientes. Mas isso é novo mesmo? Será que existe algum risco?
Contexto
Em alguns países, principalmente após o início da pandemia, uma nova tendência surgiu entre os jovens. Essa nova trend ganhou um nome pomposo e uma sigla mais forte ainda: BNPL, “buy now, pay later”, ou simplesmente o ato de comprar um produto para pagar depois. Hm… mas… isso é novidade mesmo?
Se você mora no Brasil, provavelmente o ato de comprar a prazo (a nossa forma um pouquinho mais humilde de se referir ao ato de comprar um produto sem pagar o seu valor total, ou iniciar o pagamento apenas após ter a posse do mesmo) não é nenhuma revolução. O que acontece é que novas empresas estão surgindo mundo afora e mostrando ao restante do globo como comprar a prazo, utilizando-se de crédito, pode ser interessante.
Entretanto, enquanto aqui no BR nós já sabemos bem as vantagens e desvantagens de se comprar em prestações, o resto do mundo ainda parece maravilhado com essa novidade. E tudo isso levanta uma grande preocupação: se os jovens do planeta abraçarem o crédito de vez, será que os brasileiros vão buscar ainda mais endividamento?
Nova roupagem?
No Brasil, comprar a prazo é bastante comum, e isso não é necessariamente ruim. De uma forma simples, o crédito sustenta o endividamento – que é diferente de inadimplência, ou seja, o ato de não conseguir honrar as dívidas – e acaba por movimentar o consumo e a economia nacional. Em nosso país, 70% das famílias possuem dívidas e a maior parte do endividamento é gerado por meio do cartão de crédito, a principal fonte de dívida em mais de 80% dos casos.
Além disso, por aqui existem outros meios de pagamento a prazo além do cartão de crédito. No fim do século passado, um deles era bastante comum: o carnê. Destinado para aqueles indivíduos que não possuíssem conta bancária ou outra forma de pagamento disponível, o carnê ficou famoso, virou letra de música, e parecia esquecido com a difusão da internet e a digitalização forçada pós-março de 2020. Mas e se ele ganhasse uma nova roupagem? E se ao invés de recebermos aquele bloquinho com algumas folhinhas, tudo fosse feito digitalmente?
De certa forma, é o que parece acontecer com o BNPL. Inclusive, a “nova” forma de pagamento é direcionada a jovens-adultos que não desejam passar por verificações de crédito mais rigorosas e não querem arcar com juros e anuidades de cartões de crédito. O resultado? No TikTok, alguns jovens compartilham suas dívidas recém-contratadas e ficam surpresos quando algum dos aplicativos intermediários enviam lembretes de pagamento.
Comprar, receber, pagar… tem que pagar?
Quais os riscos?
Agências reguladoras de todo o mundo analisam a situação com cautela. No geral, a preocupação é uma só: a possibilidade de uma enorme onda de empréstimos imprudentes por meio dos aplicativos de BNPL.
Vamos utilizar o cartão de crédito como exemplo. Como forma de consumo, os cartões já se tornaram vilões para muitas pessoas. A “intangibilidade” do cartão, como o simples fato de se comprar algo sem ter dinheiro em mãos e a possibilidade de “diluir” altos valores em prestações a perder de vista já foram citados como motivos para descontrole de gastos. Agora imagine uma forma de empréstimo onipresente, disponível 24 horas e com periodicidade ajustável. As preocupações parecem justas.
No mais, os aplicativos de BNPL também tentam se popularizar conquistando o coração dos lojistas. Como o custo da operação recai sobre os aplicativos, a operação torna-se aparentemente vantajosa ao comerciante. Entretanto, é importante lembrar que existem ressalvas quanto ao comportamento dos consumidores em cada país. Em contextos em que disputas por preços (algo parecido com a política do frete grátis) se sobrepõe à fidelização, como no caso do Brasil, o simples fato das empresas ofertarem o BNPL como método de pagamento pode não ser a salvação, deixando o lojista com ainda mais custos.
Conclusão:
As inovações tecnológicas não param e, eventualmente, alguma irá surgir com uma nova roupagem. Para os usuários das novas formas de pagamento, recomenda-se sempre a cautela. A euforia é comum: ocorreu com os cartões de crédito, aconteceu com o PIX e poderá acontecer também com os apps de BNPL. A dica é sempre se planejar e evitar compras (e dívidas) por impulso.
Aos empreendedores, recomenda-se ainda mais planejamento. As finanças empresariais estão ficando cada dia mais complexas, com operações 24 horas, em diversos canais e por meio de inúmeros métodos de pagamento. Para não se perder, organização e análise de dados é fundamental!