Deepfake: preocupações, desafios e o futuro da internet

Você sabe o que é deepfake? Não? Então vamos conhecer um pouco mais sobre essa nova “tendência”, que pode ser uma brincadeira engraçada ou puro Black Mirror.

Contexto:

Em meados de 2018, políticos americanos enviaram uma carta ao departamento de inteligência do país. Preocupados, pediam que fossem tomadas providências acerca de uma nova forma de se utilizar inteligência artificial: “falsificações digitais hiper-realistas”, que mostrassem indivíduos dizendo ou fazendo coisas que eles nunca fizeram ou disseram.

Um ano depois, em 2019, as deepfakes – como são conhecidas tais falsificações – foram eleitas como uma das grandes ameaças para a segurança digital na próxima década. As deepfakes podem ser compreendidas como imagens e vídeos, criados através de softwares que utilizem de aprendizagem de máquina, para que se tornem quase reais. 

A preocupação torna-se ainda maior por um motivo bem simples: se ainda é necessário um grande esforço para separarmos “news” de “fake news”, ou simplesmente desdizer aquela corrente do Zap, como iremos nos portar diante de mentiras extremamente realistas?

Discussão:

As fake news já fazem parte da nossa cultura digital. Estão nos telejornais, nos discursos, nas brincadeiras, mas são uma ameaça real. Elas custam, aproximadamente, 78 bilhões de dólares por ano. Para início de discussão, é interessante diferenciar a fake news de um erro humano. Uma falha na digitação ou uma conta errada podem ser considerados uma notícia falsa? A priori, não. Uma informação errada – ou desinformação – será considerada “fake” caso tenha sido criada e compartilhada de forma deliberada com a intenção de manipular ou enganar uma audiência. Mas, e se eu fui enganado e compartilhei a informação?… Bom, aí sim está o grande problema.

O ato de compartilhar informações falsas pela internet também pode ser considerado humano. Como as fake news são mais propensas em se tornar virais que as informações verdadeiras, o simples fato de vê-las repetidas vezes torna o compartilhamento mais provável. Mas, o maior dos problemas vem a seguir. A notícia falsa vista muitas vezes será compartilhada e tomada como verdade mesmo se for comprovada como mentira. Ou seja, aquela fake news que é repetida várias vezes acaba se tornando mais fácil de ser assimilada e ganha uma “aura de verdade”, nos deixando mais livres para compartilhar.

Diferenças_entre_deepfake_e_fakenews

E o deepfake? A utilização de imagens e vídeos falsos torna tudo ainda mais complexo. Se a informação falsa que nasce parecendo mentira – montagens, textos desconexos -, necessita ser vista várias vezes para ser tomada como verdade, os vídeos criados com inteligência artificial encurtam esse caminho. Afinal, é um vídeo.

Celebridades em corpos de atrizes e atores do meio pornográficopolíticos que dizem frases absurdas ou o Jim Carrey estrelando “O Iluminado”. O deepfake mal chegou e já é considerado pakas por quem conhece programação. Em termos econômicos, só em 2020, esse tipo de falsificação irá custar aproximadamente R$ 1 bilhão às empresas e indivíduos. Mas, mais do que dinheiro, o que estará em jogo é a própria reputação dos envolvidos. Com os vídeos e imagens falsas cada vez mais difíceis de serem identificados como verdadeiros, uma desconfiança cada vez maior estará presente nos usuários. Imagine uma sociedade que passe a desconfiar dos resultados gerados pelo provedor de busca que utilizam. Qual informação será a verdadeira?

Um exemplo prático está no site “thismarketingblogdoesnotexist”. O blog, criado através da utilização de inteligência artificial, pode ser considerada uma deepfake no formato textual. Os posts, recheados de dicas para mídias sociais, são escritos conforme as melhores práticas de escrita para SEO – técnicas e estratégias que visam melhorar a posição de um site em um mecanismo de busca -, nada mais, nada menos do que por Barry Tyree. Não conhece? Nem eu. Ele se define em sua bio como um “não humano, cuja face foi gerada por um modelo de inteligência artificial”.

Conclusão:

O futuro pode ser fake. Antes mesmo de nos recuperarmos da enxurrada de fake news e aprendermos a lidar com elas, surgiram os deepfakes – fake news com esteroides. A ameaça é real e grandes esforços já estão sendo empregados para combatê-la. O próprio Facebook, grande meio de propagação das fake news anteriormente, lançou um desafio para a geração de novas tecnologias que visem detectar deepfakes. Mas, de toda forma, é difícil dizer quando todos nós teremos meios de separar a verdade da mentira na internet.

O grande perigo, porém, reside na falta de confiança e credibilidade que as falsificações realistas podem gerar. Como confiar em alguém que diz algo em uma entrevista, e justamente o contrário em outro vídeo? Ver e escutar seu ídolo em situações que você jamais imaginou? Ou como não acreditar que aquela foto do seu parceiro com outra pessoa no restaurante é real? As aplicações das falsificações hiper-realistas são inúmeras e podem gerar estragos tanto no ambiente corporativo quanto no pessoal. Como diz o ditado, “até explicar que focinho de porco não é tomada…”

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